07/09/2008

Até breve

Um ano depois de chegar à terra da libra é hora de dizer até breve (me recuso a dizer adeus).

Estive sumida nos últimos meses por causa da dedicação integral à dissertação e de uns dias de férias antes de terminar minha temporada aqui no Reino Unido. Mas era preciso colocar um ponto final neste blog que me ajudou a destacar coisas tão diferentes e ricas que vivi por aqui.

Antes de qualquer coisa, queria agradecer os comentários e incentivos. Eles tornaram o blog e minha caminhada muito mais divertidos.

Agora é hora de voltar para casa e recomeçar de novo. Só tenho a agradecer por este ano maravilhoso morando em Londres. Muito aprendizado, muitas descobertas, muitas pessoas interessantes e muitos momentos felizes. Algumas dificuldades também, afinal precisamos delas para dar valor às coisas boas da vida.

Como diz uma grande amiga, a partir do momento em que deixamos nosso país para morar fora viveremos para o resto da vida em eterna saudade. E é isto que sinto no momento. Uma alegria imensa de rever as pessoas e lugares queridos do meu Rio, mas uma pontinha de saudade de tudo que sentirei falta daqui.

Tenho certeza, no entanto, que minha ligação com o Reino Unido só se fortaleceu durante este ano e ele estará sempre presente na minha vida, mesmo que eu esteja fora da ilha. Principalmente no hábito do chá da tarde, da noite e da manhã: sempre com leite, claro.

Até breve, Reino Unido! Estarei de olho em você lá do Rio!

30/06/2008

Uma entrevista exclusiva com Ken Livingstone no metrô

Nada me dizia que esta seria uma segunda-feira única. Ao chegar à estação de metrô, corri pelas escadas ao ver que o trem estava na plataforma, como faço sempre, mesmo sabendo que o próximo trem leva mais dois ou três minutos. Ao ver dois lugares vazios às 8h50, pensei: que sorte. Afinal, mesmo já tendo passado da hora pesada do rush – quando mal há lugar para ficar de pé -, não é muito comum encontrar cadeiras vagas por volta das nove da manhã aqui em Londres.

Escolhi a que estava mais perto. Depois de me acomodar com mochila, bolsa e ipod, olhei pro lado pra ver quem seriam meus companheiros de viagem até o centro. Uma das minhas distrações é observar as pessoas e imaginar suas vidas. Mesmo em Londres, onde todos parecem impassíveis diante do que acontece à volta.

Confesso que tive que olhar pelo menos umas cinco vezes antes de acreditar que era verdade. O ex-prefeito de Londres, Ken Livingstone, estava sentado do meu lado direito. Olhei para as pessoas em volta. Quase todos seguiam tranquilamente para o início de suas semanas sem perceber ou sem dar qualquer atenção para o passageiro ilustre. Troquei olhares de cumplicidade apenas com uma mulher, que também parecia querer confirmar se aquele era o homem todo-poderoso de Londres nos últimos sete anos.

De blazer marfim e um olhar calmo, Livingstone lia o jornal Metro, distribuído gratuitamente no metrô. Ele levou algum tempo até me ouvir, ou decidir dar ouvidos a uma desconhecida que iria incomodar sua viagem. Depois de quatro "excuse me", finalmente olhou para mim. Ao me apresentar como uma jornalista brasileira, ele foi simpático. Sem grandes euforias, é claro, mas disse que o Brasil era o próximo país com o qual queria desenvolver vínculos e citou a visita do presidente Lula à Inglaterra em 2006 e o fato de o Brasil estar entre as dez maiores economias do mundo.

Em seguida, alfinetou que isso não deveria ocorrer durante a gestão de Boris (o conservador Boris Johnson, que o venceu na eleição do dia 1 de maio). As críticas ao novo prefeito foram freqüentes durante os cerca de 20 minutos de nossa conversa entre Willesden Green e Baker Street, uma amostra do que foi a campanha e o que tem sido a pós-campanha, marcada por trocas de acusações entre Boris e Livingstone.

Quando perguntei de seus planos políticos, o ex-prefeito foi categórico: “Concorrer à Prefeitura daqui a quatro anos". Numa entrevista ao The Observer na semana passada, foi mais cauteloso. Disse que não iria pensar nisso até 2010, quando o Partido Trabalhista convocasse para as previas. Parece claro, no entanto, que ele não vai sair da cena política assim tão fácil.

Até a próxima disputa, Livingstone pretende trabalhar na mídia – esta semana vai cobrir a licença da apresentadora de um programa de rádio na estação local LBC – e escrever um livro sobre seu período à frente da Prefeitura para ser lançado no verão de 2009. “Governar Londres é um trabalho maravilhoso”, disse, confirmando a paixão (ou o vício?) pela cidade, à qual está ligado politicamente há mais de vinte anos.

E eu só posso confirmar: andar de metrô em Londres é realmente imprevisível. Haja arrependimento por ter deixado minha máquina fotográfica em casa.

24/06/2008

Partida de tenis com Blair: arrisque seu lance

Wimbledon, o famoso torneio ingles de tenis, comecou ontem, mas 'e claro que Blair nao estar'a em suas quadras. A oportunidade de jogar com o ex-primeiro ingles faz parte da estrategia do Partido Trabalhista para arrecadar fundos em seu jantar anual deste ano, que sera realizado no dia 10 de julho.

O leilao inclui premios um tanto quanto diferentes, entre eles um almoco com o treinador do Manchester United, Sir Alex Ferguson, um papel no novo romance de Alastair Campbell, ex-diretor de comunicacao e estrategia do governo Blair ate 2003 e autor do livro "The Blair Years: Extracts from the Alastair Campbell Diaries", e garrafas do vinho do Porto que leva a marca da tradicional Camara dos Lordes assinados pelos lideres trabalhistas e pelo primeiro-ministro Gordon Brown. Confira aqui outros itens do leilao.

"Estamos oferecendo uma serie de premios que o dinheiro normalmente nao pode comprar", disse o ex-ministro de Esportes Richard Caborn, patrono do jantar.

A ideia 'e acelerar a arrecadacao de recursos para pagar a salgada divida do Partido Trabalhista. Numeros da Comissao Eleitoral apontam para uma divida total de £ 17,8 milhoes (algo como R$ 56,4 milhoes), mas o jornal The Guardian publicou que, segundo uma fonte do partido, a divida chegaria a £ 24 milhoes (cerca de R$ 76 milhoes) considerando os juros. Parte da divida vence em algumas semanas e lideres do partido, como o primeiro-ministro Gordon Brown, podem ter que responder pessoalmente por esse dinheiro.

O valor dos lances vai depender nao apenas de bolsos recheados de libras, mas tambem da vontade dos ingleses em se aproximar do poder e, claro, ajudar o Partido Trabalhista.

04/06/2008

Canary Wharf e o barco-igreja


Canary Wharf, no sudeste de Londres, é uma das regiões de negócios mais novas da cidade, para onde migraram muitas empresas e bancos, como o HSBC, o Citigroup e a Thomson Reuters. Cerca de 70 mil pessoas trabalham ali e, é claro, existe uma forte competição com a City, tradicional centro financeiro londrino.

Conhecer a região hoje foi uma grata surpresa. Apesar de estar há quase nove meses aqui, a oportunidade ainda não tinha surgido. Posso dizer que conheci uma outra Londres. Uma cidade com edifícios altíssimos, espelhados, muitos executivos e quase nenhum turista, o que é raro por aqui.

Esse prédio aí em cima (à esquerda) é o One Canada Square, um dos primeiros a ser levantado aqui depois do imenso investimento em desenvolvimento urbano iniciado no fim dos anos 80 nessa antiga área de docas.

Além de uma infra-estrutura moderna, boas ligações de transporte e espaços para escritórios mais amplos, tenho certeza que a vista também tem sido um ponto decisivo para a atração das empresas. Tive o privilégio de conhecer um dos prédios e olhem só a vista sensacional do Tamisa lá de cima. Definitivamente de dar frio na barriga. Imaginem trabalhar com essa vista?


Para contrastar com os espigões espelhados, foi construída também uma área de lazer com cafés e restaurantes na beira do Tamisa. E foi lá que descobri uma das coisas mais curiosas da minha visita: um barco-igreja. Auto-denominada a única igreja flutuante de Londres, a St Peter’s Barge está instalada em um barco desde setembro de 2004 e realiza encontros para o estudo da Bíblia na hora do almoço durante a semana e uma missa aos domingos.

21/05/2008

Soros em Londres: crise ainda vai piorar

Pouco mais de um mês depois de lançar seu novo livro nos Estados Unidos, o megainvestidor George Soros está em Londres para a divulgação da publicação no Reino Unido. Seus temores de que o pior da crise da crédito ainda está por vir continuam firmes. Afinal, foi ele quem afirmou que esta é a maior crise desde 1929.

Em entrevista hoje no canal de notícias da Sky, Soros alertou mais uma vez para uma intensa queda de preços nos imóveis nos Estados Unidos e para mais perdas no preço dos ativos. Ele vê problemas no mercado imobiliário no Reino Unido também, embora em níveis bem menores.

Dizendo que rema contra a maré das previsões do mercado - considerando as últimas altas das bolsas mundiais -, Soros diz que, se sua expectativa estiver errada, vai pagar com sua reputação e com seu bolso, já que está aplicando no mercado considerando este cenário traçado.

Bom, ele pode até perder dinheiro se suas previsões nao se confirmarem, mas pelo menos já vai acumular mais algum com as vendas do novo livro. Para comemorar o lançamento do "The New Paradigm for Financial Markets: The Credit Crisis of 2008 and What It Means" (O novo paradigma dos mercados financeiros: a crise do credito de 2008 e o que ela significa) no Reino Unido, ele dará uma palestra hoje na London School of Economics and Political Science (LSE), a primeira da instituição que será transmitida ao vivo pela internet. Será às 17h daqui (13h no horário de Brasilia). Para assistir, entre no site da LSE (www.lse.ac.uk). Se perder a transmissão ao vivo, não se preocupe porque a LSE disponibiliza podcasts com as palestras depois.

Por aqui, Soros tambem é conhecido por suas estripulias para ganhar dinheiro no mercado. Nos anos 90, apostou contra a libra e acabou ganhando um milhão de libras quando a desvalorização da moeda da rainha se confirmou.

03/05/2008

Londres conservadora

Os conservadores tomaram Londres. A vitória de Boris Jonhson, do Partido Conservador, significará o fim de oito anos do prefeito Ken Livingstone na prefeitura de Londres. Mais do que o futuro da capital, no entanto, o que está em jogo é o futuro do Partido Trabalhista no Reino Unido, já que o partido foi o grande derrotado das eleições. Sinal de grandes emoções na política britânica nos próximos meses.

Acostumada com toda a parafernália das eleições no Brasil - eleições no domingo, com feriado, bandeiras nas ruas, meses de preparação com propaganda gratuita na TV e no rádio e, o mais importante, voto obrigatório -, estranhei o movimento no dia 1 de maio (e nos meses anteriores também).

Não há horário eleitoral gratuito, nem anúncios na TV, nem anúncios nas ruas, nem distribuição de panfletos. Os anúncios que existem são para incentivar as pessoas a votar, já que elas não são obrigadas. A campanha é feita principalmente pela mídia. O máximo que vi foi um planfleto do candidato Ken na minha portaria e algumas pessoas distribuindo panfletos no dia da eleição.

Certamente uma experiência diferente.

Sumiço

Peço desculpas se alguém esteve aqui nas últimas semanas e não encontrou nada novo, mas estive totalmente dedicada aos trabalhos de fim de período. Como o mestrado é minha prioridade aqui, infelizmente outras atividades ficaram de lado.

Algumas idéias de posts ficaram apenas na cabeça. A visita do príncipe William ao Afeganistão - uma semana depois que uma visita dele à ilha da namorada com helicóptero da Aeronáutica daqui foi divulgado pela imprensa -, um casal trocando alianças que tinha acabado de receber na agência do Correio, um novo bar que conheci com um cardápio só de grão de bico e uma visita sensacional a Stonehenge, construído três mil anos antes de Cristo.

Algumas ainda podem aparecer por aqui, outras ficarão perdidas ao vento.

Mas estou de volta.

16/04/2008

Estranho ser humano

Nao eh novidade a estranheza do ser humano, mas o desenrolar do sequestro da inglesa Shannon Matthews, de nove anos, s'o tem me feito lembrar desta grande verdade (para nao falar da morte da menina Isabella, que me toca a cada dia ao ler noticias do Brasil).

Desaparecida por 24 dias em fevereiro apos voltar sozinha de um passeio da escola, a menina foi encontrada na casa do tio do padastro. Durante o desaparecimento, eh claro que nao foram poucas as comparacoes na imprensa com o caso da pequena Madeleine Mccann (que desapareceu em Portugal em maio do ano passado).

Aliviada pelo seu encontro, comecei a achar a historia estranha, no entanto, quando um dia depois a policia ainda nao tinha devolvido a menina para a mae (o que nao ocorreu at'e hoje, alias, e ela esta sob cuidado de assistentes sociais). A trama nao eh nada simples: a mae tem sete filhos de cinco pais diferentes, o padrastro era suspeito de bater nos enteados e depois foi preso por ter pornografia infantil em seu computador, a mae foi acusada de ter um caso com o sequestrador e foi presa por negligencia e tentativa de perverter o curso da justica. Uma das alegacoes eh a de que a mae sabia quem poderia ser o sequestrador, mas nao informou a policia.

Hoje, foi anunciado que a mae Karen Matthews ira a julgamento no dia 11 de novembro, ao lado do sequestrador de sua filha. Espero sinceramente que as circunstancias e a verdade sobre o que ocorreu no caso se tornem mais claras ate l'a. Talvez para ajudar a decifrar um pouco o que se passa na cabeca do ser humano.

26/03/2008

Salvo pelo Pato

Assistir a um jogo do Brasil é sempre uma emoção, ainda mais quando se está há mais de seis meses longe de casa. Por isso, não tive nenhuma dúvida quando soube que a seleção brasileira iria jogar contra a Suécia no Emirates Stadium, aqui em Londres. A comemoração dos 50 anos da primeira Copa conquistada pelo Brasil, que foi como o amistoso foi anunciado por aqui, certamente valeria as 35 libras do ingresso.


As camisas amarelas nas vitrines das lojas de esporte de Londres anunciavam a partida, mas hoje poucos sites ingleses deram atenção ao jogo. O ibope da visita do presidente francês Sarkozy e sua primeira-dama Carla Bruni ao Reino Unido e do jogo da Inglaterra e da França em Paris estava bem maior.

Quem me conhece sabe que não entendo quase nada de futebol (e estou correndo um sério risco ao falar do tema aqui), mas curto a experiência. A falta de Kaká e Ronaldinho Gaúcho em campo já não dava bons sinais e só posso dizer que o jogo foi morno. Não dá pra fugir da sensação de que a partida foi salva da monotonia pelo gol do Pato.

Mais do que o jogo, no entanto, foi legal ver o clima do estádio inglês contaminado pela cultura brasileira (ainda que para o bem e para o mal). Quando estive no jogo entre o Arsenal e o Newcastle no mesmo estádio em setembro, fiquei impressionada pela tranquilidade dos comentários (apesar dos receios do meu pai, não vi hooligans por aqui) e pelas músicas de torcida relativamente calmas.


Hoje, o estádio mais parecia um Maracanã lotado. Muita cantoria, berros, cornetas e as famosas holas deram um ar mais brasileiro ao Emirates. Teve o lado ruim também: gente sacudindo bandeiras impedindo a visão dos que estavam atrás e gente batucando nas cadeiras e nas paredes do estádio.
Aliás, uma coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de bandeiras e camisas de times brasileiros (Corínthias, São Paulo, Grêmio, Flamengo, Vasco, Fluminense e até do Vitória da Bahia). Não entendo muito a lógica: torcer pelo Brasil e pelo time têm o mesmo significado?

Outra coisa: a onda amarela (que também tinha alguns representantes da Suécia, claro, mas quantidade bem menor que a dos brasileiros) mais uma vez confirmou a sensação que qualquer um tem por aqui: Londres está repleta de brasileiros. Não é possível privacidade alguma ao falar português no metrô, por exemplo.

Apenas algumas pérolas do que ouvi há pouco:

- "Estou aqui no estádio, o Brasil vai jogar com a Suíça (sic) e eu vou aparecer na Globo" (brasileiro falando no celular)

- "O Anderson está comendo muito breakfast inglês, por isso que está lento"

- "O Ronaldo está aposentado?" (pergunta de um inglês)



24/03/2008

Primavera ou Inverno? Páscoa ou Natal?

Esta neve fina está caindo lá fora agora, confirmando uma ameaça anunciada desde semana passada. São flocos bem finos, talvez seja preciso um esforço na vista para observar na foto (clique na foto para ampliá-la). Uma chuva de granizo na sexta-feira, alguns flocos no sábado, muito frio em todo o feriado e enfim a neve chegou nesta segunda de Páscoa aqui em Londres. Sim, aqui na Inglaterra ainda é Páscoa e a Easter Monday é feriado (mas não se animem, aqui a quinta-feira não é feriado nem meio-feriado e todos trabalham normalmente).

Desde fevereiro as temperaturas tinham aumentado e algumas pessoas já tinham trocado os casacos de inverno por outros mais leves, mas eis que o tempo muda novamente. Não que haja muita regularidade nisso aqui também. A sensação às vezes é que vivemos todas as estações do ano em um só dia: sol e chuva vão e vêm sem a menor cerimônia.

Mas não há como não admitir que é um início insólito para a primavera. Assim como os dias de sol em fevereiro fizeram os locais estranhar, já que o segundo mês do ano é considerado um dos mais cinzas do inverno.
A dúvida do título não foi minha, mas da freira responsável pela abertura da cerimônia de Páscoa ontem na Abadia de Westminster. Ela desejou a todos uma Feliz Páscoa, mas disse que facilmente poderia confundir e desejar um Feliz Natal, considerando o frio que fazia lá fora. A solista nos proporcionou momentos de muita sensibilidade com os cânticos de Páscoa que celebravam a ressureição, mas confesso que senti falta da luz de velas das cerimônias celebradas na mesma abadia em dezembro.

21/03/2008

Van Gogh e batatas

O post da Irlanda me lembrou uma obra simplesmente sensacional do Van Gogh que tive o privilégio de ver quando visitei o museu Van Gogh em Amsterdã, em outubro do ano passado.

O quadro "Os comedores de Batata" (The Potato Eaters) foi pintado pelo holandês em 1885, já algum tempo depois do início da Grande Fome que assolou a Europa, mas principalmente a Irlanda depois da praga nas plantações de batata.

Primeira pintura de larga escala de Van Gogh (82 cm x 114 cm), o quadro é de uma luminosidade sombria e de detalhes muito especiais como o rosto dos agricultores e suas mãos. Impossível não se impressionar.

Para ver o quadro, clique aqui. O site do museu vale a visita. Além de todas as obras da coleção permanente do museu, tem também muitas das cartas que Vincent Van Gogh escreveu durante sua vida, principalmente para o irmão Theo, seu principal incentivador e patrocinador também.

Dia da Irlanda

Com um certo atraso (a máxima antes tarde do que nunca vai ter que me salvar aqui), queria registrar as comemorações do Dia de São Patrício (St Patrick's Day), padroeiro da Irlanda. O país tem uma tradição forte de emigração desde a década de 1840, quando a Grande Fome acometeu a Irlanda por conta de uma praga que destruiu as plantações de batatas. Os irlandeses estão presentes em todo o Reino Unido e os Estados Unidos, mas há comunidades espalhadas também no Canadá, Austrália, Argentina, México e África do Sul.
Acredita-se que São Patrício tenha sido o responsável por levar o cristianismo para a Irlanda. Mais do que isso, no entanto, o dia se tornou uma celebração da Irlanda e do verde, do dourado (ou laranja) e do branco, as cores nacionais.

Londres tem ao lado de Nova York uma das maiores comunidades irlandesas fora da Irlanda. A maior concentração fica no bairro de Kilburn (meu vizinho), mas eles estão em toda a cidade. Embora oficialmente celebrado no dia 17 de março, o Dia de São Patrício foi comemorado em Londres com uma super festa na Trafalgar Square no último domingo, dia 16 de março, e uma parada que lembrava alguma tentativa de carnaval (muito, muito longe, claro).


Formada por bandas de músicas e comunidades irlandesas de Londres, a parada tinha também alguns carros mais diferentes, como esse da foto aí do lado. Eram muitos São Patrícios, todos de barba laranja e roupa verde. O mais legal de ver foi a descontração e a informalidade (mais do que amadorismo, afinal acho que o objetivo principal é diversão mesmo). Não havia cordas separando o público de quem desfilava e acredito que muitos verdes que desfilaram entraram na brincadeira na última hora.
As cores da Irlanda estavam por toda a parte e era uma variedade tremenda de chapéus, fantasias e maquiagens. A Guinness, uma cerveja preta super encorpada que é um dos maiores orgulhos irlandeses, estava presente não só nas mãos dos presentes, mas também na cabeça, em diferentes chapéus. Um show de alegria, apesar da chuva que teimava em cair.

10/03/2008

Homenagem no pier

Que tal homenagear quem você ama com uma placa em um pier da Inglaterra? Em Clevedon, pequena cidade no sudoeste do país, é possível encomendar uma placa a partir de 20 libras (cerca de R$ 67) que ficará eternamente instalada no pier. As mais caras, no entanto, chegam a custar 175 libras (cerca de R$ 593). As placas ficam prontas em apenas duas semanas e podem ser colocadas no chão do pier ou no encosto dos bancos.

Na verdade, você não compra a placa, mas sim a patrocina com doações mínimas de 20, 50, 85 e 175 libras (de acordo com o tamanho da placa e o número de palavras impressas). Esta forma de patrocínio foi uma das principais fontes de recursos para a restauração do Clevedon Pier, iniciada em 1989. Desde então, mais de 9.500 placas foram doadas e agora uma rifa sorteará o dono da placa de número 10.000.

Amores e saudades se intercalam entre as homenagens e é impossível não imaginar quem são aqueles personagens que se eternizam ali. Embora especial por se tratar de um pier, a prática de homenagear entes queridos com placas em bancos é muito comum no Reino Unido. Quem não lembra do filme Notting Hill, quando os personagens de Julia Roberts e Hugh Grant sentaram em um banco com uma homenagem de um casal que vivera décadas juntos?

Mais do que um pier, a cidade tem um clima de relíquia escondida (não aparece nos principais guias do Reino Unido). Um longo trajeto para caminhada na beira da praia, com pedras e não areia, reúne famílias e principalmente idosos. A vista do outro lado da praia é para o País de Gales, algo assim como Rio de Janeiro e Niterói.

São pouco mais de 20 mil habitantes, que trabalham principalmente em Bristol, uma das metrópoles do país, a pouco mais de meia hora dali. O curioso é que foi a primeira cidade que visitei até agora onde o comércio é formado apenas por lojas locais. Ok, talvez com a exceção dos supermercados, mas em geral é aquele comércio de cidade pequena, uma graça.







07/03/2008

Principe Harry e a imagem do Exercito Britanico no Afeganistao

Enrolada com os trabalhos do mestrado, nem comentei aqui a volta do principe Harry das operacoes do Exercito Britanico no Afeganistao e ja tinha ate desistido de falar da historia. Ao participar de uma palestra ontem, no entanto, acabei mudando de ideia.

O principe que adora a noite e ja chegou a se vestir com um uniforme nazista em uma festa a fantasia (com um pedido formal de desculpas depois, que nao chegou a apagar o episodio, claro) passou 10 semanas servindo no Afeganistao depois de ser impedido de ir para o Iraque no ano passado. Para garantir a seguranca das tropas (ja que ele seria um alvo mais do que desejado), a operacao foi mantida em segredo atraves de um acordo com a midia britanica, furado por um site americano.

Algumas semanas servindo ao pais em meio ao perigo certamente fizeram bem `a imagem do principe, cuja foto foi presenca garantida durante dias nos sites, jornais e televisao daqui. O principe Charles e o principe William foram rapidos em divulgar o quao orgulhosos estavam da coragem e do trabalho prestado pelo filho e irmao.

Mas a avaliacao do professor de Midia e Comunicacao da London South Bank University Philip Hammond, que acaba de lancar o livro 'Media, War and Postmodernity', e' de que mais do que uma campanha para melhorar a imagem do principe, sua ida para o Afeganistao faz parte de uma estrategia mais ampla para tentar tornar mais popular a operacao do Exercito Britanico no Afeganistao, que ja dura mais de seis anos e nao tem nenhuma previsao para terminar. Segundo ele, atualmente ha uma preocupacao maior em como o conflito esta sendo representado pela midia do que com o conflito em si.

Seu estudo se desenvolve na linha de como as guerras viraram um espetaculo da midia e uma tentativa de busca de sentido na pos-modernidade. Embora o debate do livro seja interessante, confesso que esperava mais, j'a que vejo pouca diferenca em relacao a outros estudos desenvolvidos logo depois da guerra no Iraque de 1991 (h'a mais de 15 anos!), como o do frances Jean Baudrillard.

OBS: Desculpem a falta de acentos deste teclado...

24/02/2008

Comércio justo na beira do Tâmisa

Esta imagem aí do lado é hoje uma das principais marcas reconhecidas pelo consumidor do Reino Unido, país que reúne o maior mercado de produtos fairtrade em todo o mundo. A tradução literal da marca é comércio justo, o principal objetivo da Fairtrade Foundation. A estratégia da organização para reduzir a pobreza mundial é estabelecer critérios básicos para garantir que os produtores do terceiro mundo recebem um valor justo pela sua produção.

Conheci de perto o trabalho da instituição em outubro, ao fazer uma entrevista com o diretor de Políticas e Relações com Produtores, Chris Davis, para uma matéria do Jornal do Commercio sobre a responsabilidade social aqui no Reino Unido. Para ter direito ao uso da marca, o produtor deve respeitar exigências como o uso de práticas democráticas na tomada de decisões e o compromisso com o desenvolvimento de sua comunidade. Já o comprador deve fechar um contrato de longo prazo – que permite o planejamento do produtor – e adiantar recursos para o início da produção.

Além de um preço mínimo estabelecido para cada produto (que protege o produtor das altas e baixas nos preços das commodities no mercado internacional), o comprador paga um valor a mais (o chamado prêmio social) para a realização de projetos na comunidades.

Atualmente, mais de 3.500 diferentes produtos ostentam a marca no Reino Unido, um crescimento expressivo diante dos 150 itens presentes no mercado em 2003. As vendas crescem em média 40% ao ano. Banana, chá, café e chocolate são alguns dos itens mais famosos, mas hoje já ostentam a marca outros produtos como roupas de algodão, vinho e até refrigerante cola.

Minha admiração pelo projeto foi mais uma vez confirmada hoje, ao participar do lançamento da Fairtrade Fortnight 2008 (Quinzena do Comércio Justo 2008), na região de Southbank, na margem sul do Tâmisa. Dezenas de barracas exibiam os produtos Fairtrade, desde frutas, chocolates, sucos, vinhos, chás, cafés, refrigerante de cola, castanhas, roupas de algodão, produtos de beleza e até arroz.


Um ônibus vai circular pelas principais cidades britânicas nos próximos dias para ampliar o conhecimento sobre a marca e incentivar o consumo de produtos que garantem bons negócios para os produtores. A lógica do projeto é que cada um pode fazer sua parte ao consumir os produtos fairtrade e o objetivo é conquistar resultados ainda maiores com uma participação mais forte da população.

Mas um dos momentos mais engraçados de hoje ficou por conta de atores vestidos de bananas, responsáveis por entreter os visitantes. A fantasia era genial e as esquetes foram super divertidas. Para se ter uma idéia da força das bananas fairtrade por aqui, 100% das bananas vendidas pelas grandes redes de supermercado no Reino Unido são certificadas com a marca fairtrade.









19/02/2008

Arquitetura e dinossauros

Arquitetura ou dinossauros: seja qual for sua preferência a visita ao Natural History Museum é um programa imperdível para quem está em Londres. Presente nos principais guias da cidade, o museu foi eleito no fim do ano passado uma das sete maravilhas da cidade e definitivamente merece o título.



A construção é suntuosa não apenas pelo tamanho, mas pelos detalhes. De arquitetura romanesca, o prédio foi concluído em 1881 pelo arquiteto Alfred Waterhouse, depois que se decidiu que as peças de história natural mereciam uma área exclusiva, fora do British Museum. As diferentes cores do tijolos e os detalhes de animais e pássaros merecem um olhar especial. Eles lembram até mesmo os gárgulas como os da Catedral de Notre Dame, em Paris.


O super dinossauro logo na entrada é o cartão de visitas do museu e é impossível resistir a uma foto ao lado dele. Dá para ter uma idéia efetiva do que seriam esses enormes animais há milhões de anos. Uma coleção especial que mistura ossadas com reproduções super reais dos bichos garante o passeio, principalmente das crianças inglesas que estão curtindo alguns dias de férias essa semana (half-term). Vale a pena enfrentar o museu cheio, seja de crianças ou de turistas, para descobrir um pouco mais sobre os míticos dinossauros.

Há muito mais para se descobrir no museu... Como a coleção dos mamíferos (com uma reprodução de uma gigantesca baleia azul) e a seção sobre a Terra, que desvenda mistérios como a força dos ventos e dos terremotos, por exemplo.

E o melhor de tudo: a visita é de graça. Como incentivo à cultura, a entrada nos museus do governo é gratuita desde 2001. Apenas as exibições especiais são cobradas. Programa imperdível.

18/02/2008

Nacionalização e o que mais vem por aí ...

Depois de anos ouvindo falar tanto de privatização - como a formula mágica para resolver os problemas financeiros de governos -, soa no mínimo estranha a nacionalização da instituição financeira Northern Rock, anunciada ontem pelo chanceler britânico Alistair Darling. Segundo ele, as duas propostas privadas recebidas pelo banco não ofereciam "valor suficiente para o dinheiro do contribuinte". Uma delas era do próprio conselho do Northern Rock e a outra de Richard Branson, megaempresario do Virgin Group, cuja empresa líder é a companhia aérea Virgin Atlantics.

A nacionalização é temporária, embora ninguém arrisque dizer por quanto tempo durará esse temporário. A aprovação certamente não será simples e conservadores já se manifestaram contra a opção encontrada depois de cinco meses que os ingleses correram para as agências para sacar o dinheiro do financiamento imobiliário que tinham guardado no Northern Rock.

O debate se esta é a melhor opção ou não para o futuro do banco e do dinheiro do contribuinte é muito mais complexo, mas não deixa de ser corajosa a decisão do governo britânico de sugerir uma proposta tão contra a unanimidade do liberalismo econômico da atualidade.

O assunto promete ocupar as primeiras páginas dos jornais daqui pelos próximos dias. Vamos ver o que mais vem por aí...

10/02/2008

Céu azul e sol no inverno londrino

Quem visita a cidade pela primeira vez por esses dias pode até duvidar da fama do fog e da chuva da capital inglesa. Londres está nos brindando com dias simplesmente lindos de sol e céu azul. A previsão meteorológica (uma mania forte por aqui) é de que pelo menos nos próximos três dias o sol continuará iluminando a cidade.

Ou seja, a ordem é aproveitar ao máximo esse inverno gostoso, de frio e sol, e é isso que moradores e turistas estão fazendo, ao encher parques, praças, cafés e a beira do Tâmisa. Há quem goste dos dias cinzentos, mas é impossível negar o poder do sol para dar energia e animar a vida.


06/02/2008

China in Londres

As lindas lanternas vermelhas que acabaram de ser acesas em plena Oxford Circus são o anúncio do início do ano novo chinês - o ano do rato - e do festival China in London, que será realizado até o dia 6 de abril. São dois meses comemorando o feriado mais importante na China e as relações entre Londres e a China e Pequim.

A programação está recheada de eventos legais, como uma festa no próximo domingo em Chinatown, dias especiais no British Museum e no Victoria and Albert Museum e exibição de uma série de filmes chineses, finalizando com a passagem da Tocha Olímpica no dia 6 de abril. Programa imperdível para quem estiver em Londres nas próximas semanas.

A principal razão para a celebração é a realização das Olimpíadas em agosto em Pequim, que daqui a quatro anos aportam por aqui. Londres está se preparando com muita vontade (e investimentos) para os Jogos de 2012 e o festival é mais uma forma de promover as Olímpiadas.

Mas a ligação entre a cidade e a China vai muito além disso.... Londres abriga uma das maiores Chinatowns do mundo (as fotos no fim do post), tem uma ampla comunidade chinesa e um povo muito interessado pelo país asiático, e isso antes do avanço econômico do início do milênio. Em um seminário sobre Posters na China em que estive presente aqui no ano passado, eu devia ser uma das poucas pessoas que não era fluente em chinês....

Até o primeiro-ministro Gordon Brown esteve em uma visita oficial à China há poucos dias e anunciou uma meta de aumento do intercâmbio comercial entre o Reino Unido e a China para US$ 60 bilhões até 2010, o que representa um aumento de 50% em relação ao volume de 2007.

Admito que sou um pouco suspeita pelo meu amplo interesse em China - que será inclusive tema da minha dissertação do mestrado -, mas é impossível negar a importância do país, pela sua história, cultura e a forma como tem mudado muita coisa no mundo nos dias de hoje.

Um feliz ano novo chinês para todos!





04/02/2008

Avanço pelo meio ambiente

Enquanto o Rio se esbalda no Carnaval - viva a folia, que está com chamada principal na homepage da BBC -, Londres inicia hoje a implantação da Low Emission Zone (LEZ), ou Zona de Baixa Emissão, criada pelo prefeito verde Ken Livingstone para melhorar a qualidade do ar na capital. Esta será a primeira no Reino Unido e a maior em extensão em todo o mundo.

A partir de hoje, caminhões que não respeitarem os níveis de emissão de carbono estabelecidos devem pagar 200 libras (cerca de R$ 700) para entrar na Grande Londres. As multas para quem não cumprir as novas regras podem chegar a 1.000 libras (cerca de R$ 3.500). Ônibus e outros veículos movidos a diesel serão incluídos na lista a partir de julho, mas automóveis ficarão de fora.

Diferentemente da chamada taxa de congestão – com valor de 8 libras (cerca de R$ 28) e cobrada dos veículos que circulam apenas no centro da cidade -, a LEZ inclui 33 regiões da Grande Londres, incluindo algumas rodovias de acesso à capital.

A polêmica é grande, como seria de se esperar considerando os custos para as empresas transportadoras. Ao mesmo tempo, tem se questionado se as 75 câmeras que vão fiscalizar a entrada dos caminhões na região proibida e multas de 1.000 libras serão suficientes para inibir a circulação desses veículos.

Independentemente da controvérsia e de ajustes que o projeto possa precisar, a verdade é que a LEZ é mais um avanço do Reino Unido pela causa verde. Ao lado da Alemanha, o Reino Unido tem sido pioneiro na busca de soluções para reduzir o impacto ambiental das ações humanas e agir para reduzir um problema mais do que urgente para a humanidade. Ponto para a LEZ, para Londres e para o Reino Unido.

29/01/2008

Viva a leitura

Uma das primeiras coisas que notei quando cheguei em Londres foi o forte hábito da leitura entre os que moram por aqui. A grande maioria das pessoas no metrô está sempre lendo algo, seja um dos jornais gratuitos distribuídos por aqui (prometo detalhes em um outro post) ou um livro. Coisa rara de se ver no Rio, por exemplo.

E quando digo sempre é sempre mesmo. Até na hora do rush, tipo nove da manhã ou seis da tarde. As pessoas são experts em se equilibrar de pé, sem segurar em nada - já que o metrô parece uma lata de sardinha nessas horas (tipo trem da Central, sabe?) - e ler calmamente seu livro.
Considerando uma cidade em que o tempo médio que se leva para chegar ao trabalho é de uma hora (o famoso commuting), a leitura é uma das maneiras mais produtivas de otimizar o tempo gasto na transporte público.

Confesso, no entanto, que me surpreendi no último sábado. Ok, ler no metrô eu já estou acostumada, mas enquanto espera um show começar???? É verdade! Fomos assistir à banda inglesa Incognito no famoso Jazz Café, em Camdem Town. As portas abriram às 19h, mas o show estava marcado (e começou) às 21h.

Pois pouco antes das 20h essa moça aí chegou, se posicionou na frente do palco e tirou da bolsa o livro "The Consolations of Philosophy", uma espécie de auto-ajuda da filosofia, segundo minha pesquisa na internet. Enfim, o importante é que ela ficou ali, lendo praticamente no escuro, até o início do show. É verdade que ela estava sozinha e o livro era uma barreira para aproximações inoportunas. Mas duvido que a estratégia fosse sequer cogitada por uma carioca querendo se manter protegida de comentários masculinos....

23/01/2008

'Minhas mãos estão atadas'

A frase do presidente do Banco da Inglaterra (o banco central daqui), Mervyn King, dá o tom do clima em relação aos possíveis efeitos da crise nos Estados Unidos na ilha britânica. É claro que o mundo todo parou esta semana por causa da queda nas bolsas e a redução dos juros pelo Fed (banco central americano). Na terra da libra, no entanto, parece que o pessimismo é a única corrente.

Se os jornais brasileiros há analistas apontando que o impacto no Brasil de uma recessão nos Estados Unidos pode ser menor que em momentos anteriores - por causa de reservas internacionais elevadas, endividamento externo menor e um mercado interno em crescimento -, a avaliação mais disseminada por aqui é que o Reino Unido tem grandes riscos de sofrer um forte impacto com a crise do outro lado do Atlântico.

O déficit do governo atingiu recorde em dezembro, a inflação está em alta, as vendas de Natal já mostraram desaceleração no consumo e o mercado imobiliário dá sinais de enfraquecimento depois de forte alta nos últimos anos.

"Minhas mãos estão atadas", disse o dirigente do Banco da Inglaterra depois da notícia do corte de juros do Fed. King previu que o país pode enfrentar um brusco desaquecimento este ano e admitiu ter "pouco controle sobre os ventos que golpeiam nossa economia".

O que é certo é que muitos ventos ainda virão nesta crise - que foi descrita pelo investidor George Soros em artigo no Financial Times de hoje como a pior dos últimos 60 anos - e estamos longe de ver tranquilidade de novo no mercado financeiro.

Só para tornar ainda mais delicada a situação do governo, no entanto, cerca de 22,5 mil policiais foram às ruas de Londres hoje em protesto contra um reajuste inferior à inflação e que deve ser repassado apenas em dezembro. O problema atinge outros funcionários públicos, como professores e médicos.

O primeiro-ministro Gordon Brown justificou os níveis dos reajustes com a necessidade da luta contra a inflação e pediu que os parlamentares sigam o exemplo e também aumentem seus salários abaixo da inflação, mas eles ainda não tomaram uma decisão final.

21/01/2008

Peruca a R$ 10,3 mil

Tradicionais nos filmes de época, aquelas perucas brancas ainda são uma realidade aqui no Reino Unido, embora a partir deste ano restritas aos julgamentos criminais. A mudança, anunciada em julho do ano passado, acabou com a obrigação do uso para julgamentos civis.

As perucas, feitas de crina de cavalo, são usadas há mais de 300 anos na ilha e uma verdadeira sensação para quem não está acostumado com a tradição. Tive a chance de ver de perto alguns modelos em uma visita ao Temple, uma região de Londres que reúne as instalações de duas instituições de advogados: Inner Temple e Middle Temple.


Em 1608 - há exatos 400 anos -, elas receberam a propriedade do terreno em que estavam instaladas do rei James I, com a condição de que cuidassem do treinamento dos advogados - tarefa antes realizada pela Igreja - e que cuidassem em conjunto da Temple Church. Para quem vier à cidade, vale uma visita.

Enfim, como era um evento especial, um designer das perucas estava presente durante o Temple Open Weekend expondo alguns modelos e explicando as diferenças entre elas. A partir do modelo é possível identificar a função de cada um no tribunal. A peruca de juiz (primeira foto) custa nada menos do que 3 mil libras (R$ 10,3 mil pela cotação de hoje). Para acompanhar a relíquia, os magistrados ainda usam essas longas togas com detalhes dourados (segunda foto) e uma pequena bolsa atrás do pescoço, ainda do tempo em que ali ficava guardado o óleo que escorria das perucas.


Já uma peruca para o barrister (terceira foto), como é chamado aqui o advogado que comparece perante o tribunal, sai bem mais em conta: 500 libras (R$ 1,7 mil). Para aqueles que são pegos de surpresa, o fabricante de perucas também oferece um serviço de aluguel durante o período que durar um julgamento.



07/01/2008

Ajuda da Igreja para se livrar de dívidas

Os britânicos vão poder contar com a ajuda da Igreja da Inglaterra para se livrar de dívidas, segundo matéria publicada hoje no The Times. A igreja deve lançar uma campanha baseada em textos bíblicos e orações escritas para dar esperança a quem está com as contas vencidas. O programa deve incluir ainda uma lista de 10 pontos para que as pessoas verifiquem se é preciso pedir ajuda antes que seja tarde demais.

Não dá para saber se a ajuda vai adiantar alguma coisa, mas não devem faltar candidatos à campanha, já que o número de endividados é grande no País. Pesquisa divulgada em dezembro mostrou que grande parte da população ia financiar suas compras de Natal com cartão de crédito e, mesmo assim, há suspeita de quedas nas vendas. As ações da rede varejista Sainsbury's, por exemplo, caíram 8% hoje por causa da expectativa de que vai divulgar números menores no balanço de Natal, que será divulgado na próxima quinta-feira.

O primeiro-ministro Gordon Brown já avisou que 2008 será um ano difícil e perigoso para a economia mundial, embora alegue que o Reino Unido está em boas condições para cortar as taxas de juros, atualmente em 5,25% ao ano. A decisão será anunciada na quinta-feira, mas não será fácil já que o país também enfrenta uma pressão inflacionária.

04/01/2008

Uma visita ao continente e pílulas de Paris

Ok, este é um blog sobre o Reino Unido, mas o recesso de fim de ano me permitiu uma visita ao continente e não pude resistir a escrever algumas impressões. A Cidade Luz é menos iluminada no inverno, é verdade, mas sua beleza e encanto independem da estação do ano. Não é à toa que milhões de turistas lotaram Paris neste início de 2008 para aproveitar as maravilhas da cidade. O que significou filas, muitas filas, para disputar seu espaço nos lugares mais populares. Mas nada que um chocolate quente ou uma taça de vinho numa brasserie não resolvam...

Algumas pílulas de Paris:

- Desde o primeiro dia do ano os franceses estão proibidos de fumar em ambientes públicos como bares, restaurantes e discotecas. A proibição promete mudar de vez a rotina dos cafés parisienses, como já fez com os pubs ingleses desde julho do ano passado. Só se falava no assunto nos jornais e as imagens de cigarros no chão na frente das portas dos cafés se proliferavam. Ponto para os franceses e para quem visita o país, que não precisa mais respirar fumaça enquanto curte um café.

- Depois de voltar de férias polêmicas no Egito com a nova namorada, o presidente francês Nicolas Sarkozy fez no dia 31 um pronunciamento ao vivo na televisão com seus votos para 2008. Ele se dirigiu aos franceses que consideram muito rápidas suas reformas para acelerar o crescimento da economia, mas também aos que consideram que o ritmo está aquém do esperado. “Não acredito na brutalidade como método de governo”, disse o presidente, que foi acusado de fazer um discurso de candidato aos oito meses de mandato. Pelo visto ele ainda vai ter muito trabalho pela frente para conquistar os franceses....


- A considerar pelo número de brasileiros em Paris, a economia brasileira vai às mil maravilhas. O português é uma das línguas mais faladas entre os turistas e é ouvido em cada esquina, restaurante, metrô ou ponto turístico. Só no meu hotel, por exemplo, pelo menos dois quartos de cada um dos seis andares estava ocupado por brasileiros. O que mais impressiona é a quantidade de famílias. Se há alguns anos os casais eram mais freqüentes, hoje Paris está cheia de famílias brasileiras, incluindo pais, filhos, avôs, sobrinhos. Resultado do que o euro a menos de R$ 3 tem feito pelo turismo.