29/01/2008

Viva a leitura

Uma das primeiras coisas que notei quando cheguei em Londres foi o forte hábito da leitura entre os que moram por aqui. A grande maioria das pessoas no metrô está sempre lendo algo, seja um dos jornais gratuitos distribuídos por aqui (prometo detalhes em um outro post) ou um livro. Coisa rara de se ver no Rio, por exemplo.

E quando digo sempre é sempre mesmo. Até na hora do rush, tipo nove da manhã ou seis da tarde. As pessoas são experts em se equilibrar de pé, sem segurar em nada - já que o metrô parece uma lata de sardinha nessas horas (tipo trem da Central, sabe?) - e ler calmamente seu livro.
Considerando uma cidade em que o tempo médio que se leva para chegar ao trabalho é de uma hora (o famoso commuting), a leitura é uma das maneiras mais produtivas de otimizar o tempo gasto na transporte público.

Confesso, no entanto, que me surpreendi no último sábado. Ok, ler no metrô eu já estou acostumada, mas enquanto espera um show começar???? É verdade! Fomos assistir à banda inglesa Incognito no famoso Jazz Café, em Camdem Town. As portas abriram às 19h, mas o show estava marcado (e começou) às 21h.

Pois pouco antes das 20h essa moça aí chegou, se posicionou na frente do palco e tirou da bolsa o livro "The Consolations of Philosophy", uma espécie de auto-ajuda da filosofia, segundo minha pesquisa na internet. Enfim, o importante é que ela ficou ali, lendo praticamente no escuro, até o início do show. É verdade que ela estava sozinha e o livro era uma barreira para aproximações inoportunas. Mas duvido que a estratégia fosse sequer cogitada por uma carioca querendo se manter protegida de comentários masculinos....

23/01/2008

'Minhas mãos estão atadas'

A frase do presidente do Banco da Inglaterra (o banco central daqui), Mervyn King, dá o tom do clima em relação aos possíveis efeitos da crise nos Estados Unidos na ilha britânica. É claro que o mundo todo parou esta semana por causa da queda nas bolsas e a redução dos juros pelo Fed (banco central americano). Na terra da libra, no entanto, parece que o pessimismo é a única corrente.

Se os jornais brasileiros há analistas apontando que o impacto no Brasil de uma recessão nos Estados Unidos pode ser menor que em momentos anteriores - por causa de reservas internacionais elevadas, endividamento externo menor e um mercado interno em crescimento -, a avaliação mais disseminada por aqui é que o Reino Unido tem grandes riscos de sofrer um forte impacto com a crise do outro lado do Atlântico.

O déficit do governo atingiu recorde em dezembro, a inflação está em alta, as vendas de Natal já mostraram desaceleração no consumo e o mercado imobiliário dá sinais de enfraquecimento depois de forte alta nos últimos anos.

"Minhas mãos estão atadas", disse o dirigente do Banco da Inglaterra depois da notícia do corte de juros do Fed. King previu que o país pode enfrentar um brusco desaquecimento este ano e admitiu ter "pouco controle sobre os ventos que golpeiam nossa economia".

O que é certo é que muitos ventos ainda virão nesta crise - que foi descrita pelo investidor George Soros em artigo no Financial Times de hoje como a pior dos últimos 60 anos - e estamos longe de ver tranquilidade de novo no mercado financeiro.

Só para tornar ainda mais delicada a situação do governo, no entanto, cerca de 22,5 mil policiais foram às ruas de Londres hoje em protesto contra um reajuste inferior à inflação e que deve ser repassado apenas em dezembro. O problema atinge outros funcionários públicos, como professores e médicos.

O primeiro-ministro Gordon Brown justificou os níveis dos reajustes com a necessidade da luta contra a inflação e pediu que os parlamentares sigam o exemplo e também aumentem seus salários abaixo da inflação, mas eles ainda não tomaram uma decisão final.

21/01/2008

Peruca a R$ 10,3 mil

Tradicionais nos filmes de época, aquelas perucas brancas ainda são uma realidade aqui no Reino Unido, embora a partir deste ano restritas aos julgamentos criminais. A mudança, anunciada em julho do ano passado, acabou com a obrigação do uso para julgamentos civis.

As perucas, feitas de crina de cavalo, são usadas há mais de 300 anos na ilha e uma verdadeira sensação para quem não está acostumado com a tradição. Tive a chance de ver de perto alguns modelos em uma visita ao Temple, uma região de Londres que reúne as instalações de duas instituições de advogados: Inner Temple e Middle Temple.


Em 1608 - há exatos 400 anos -, elas receberam a propriedade do terreno em que estavam instaladas do rei James I, com a condição de que cuidassem do treinamento dos advogados - tarefa antes realizada pela Igreja - e que cuidassem em conjunto da Temple Church. Para quem vier à cidade, vale uma visita.

Enfim, como era um evento especial, um designer das perucas estava presente durante o Temple Open Weekend expondo alguns modelos e explicando as diferenças entre elas. A partir do modelo é possível identificar a função de cada um no tribunal. A peruca de juiz (primeira foto) custa nada menos do que 3 mil libras (R$ 10,3 mil pela cotação de hoje). Para acompanhar a relíquia, os magistrados ainda usam essas longas togas com detalhes dourados (segunda foto) e uma pequena bolsa atrás do pescoço, ainda do tempo em que ali ficava guardado o óleo que escorria das perucas.


Já uma peruca para o barrister (terceira foto), como é chamado aqui o advogado que comparece perante o tribunal, sai bem mais em conta: 500 libras (R$ 1,7 mil). Para aqueles que são pegos de surpresa, o fabricante de perucas também oferece um serviço de aluguel durante o período que durar um julgamento.



07/01/2008

Ajuda da Igreja para se livrar de dívidas

Os britânicos vão poder contar com a ajuda da Igreja da Inglaterra para se livrar de dívidas, segundo matéria publicada hoje no The Times. A igreja deve lançar uma campanha baseada em textos bíblicos e orações escritas para dar esperança a quem está com as contas vencidas. O programa deve incluir ainda uma lista de 10 pontos para que as pessoas verifiquem se é preciso pedir ajuda antes que seja tarde demais.

Não dá para saber se a ajuda vai adiantar alguma coisa, mas não devem faltar candidatos à campanha, já que o número de endividados é grande no País. Pesquisa divulgada em dezembro mostrou que grande parte da população ia financiar suas compras de Natal com cartão de crédito e, mesmo assim, há suspeita de quedas nas vendas. As ações da rede varejista Sainsbury's, por exemplo, caíram 8% hoje por causa da expectativa de que vai divulgar números menores no balanço de Natal, que será divulgado na próxima quinta-feira.

O primeiro-ministro Gordon Brown já avisou que 2008 será um ano difícil e perigoso para a economia mundial, embora alegue que o Reino Unido está em boas condições para cortar as taxas de juros, atualmente em 5,25% ao ano. A decisão será anunciada na quinta-feira, mas não será fácil já que o país também enfrenta uma pressão inflacionária.

04/01/2008

Uma visita ao continente e pílulas de Paris

Ok, este é um blog sobre o Reino Unido, mas o recesso de fim de ano me permitiu uma visita ao continente e não pude resistir a escrever algumas impressões. A Cidade Luz é menos iluminada no inverno, é verdade, mas sua beleza e encanto independem da estação do ano. Não é à toa que milhões de turistas lotaram Paris neste início de 2008 para aproveitar as maravilhas da cidade. O que significou filas, muitas filas, para disputar seu espaço nos lugares mais populares. Mas nada que um chocolate quente ou uma taça de vinho numa brasserie não resolvam...

Algumas pílulas de Paris:

- Desde o primeiro dia do ano os franceses estão proibidos de fumar em ambientes públicos como bares, restaurantes e discotecas. A proibição promete mudar de vez a rotina dos cafés parisienses, como já fez com os pubs ingleses desde julho do ano passado. Só se falava no assunto nos jornais e as imagens de cigarros no chão na frente das portas dos cafés se proliferavam. Ponto para os franceses e para quem visita o país, que não precisa mais respirar fumaça enquanto curte um café.

- Depois de voltar de férias polêmicas no Egito com a nova namorada, o presidente francês Nicolas Sarkozy fez no dia 31 um pronunciamento ao vivo na televisão com seus votos para 2008. Ele se dirigiu aos franceses que consideram muito rápidas suas reformas para acelerar o crescimento da economia, mas também aos que consideram que o ritmo está aquém do esperado. “Não acredito na brutalidade como método de governo”, disse o presidente, que foi acusado de fazer um discurso de candidato aos oito meses de mandato. Pelo visto ele ainda vai ter muito trabalho pela frente para conquistar os franceses....


- A considerar pelo número de brasileiros em Paris, a economia brasileira vai às mil maravilhas. O português é uma das línguas mais faladas entre os turistas e é ouvido em cada esquina, restaurante, metrô ou ponto turístico. Só no meu hotel, por exemplo, pelo menos dois quartos de cada um dos seis andares estava ocupado por brasileiros. O que mais impressiona é a quantidade de famílias. Se há alguns anos os casais eram mais freqüentes, hoje Paris está cheia de famílias brasileiras, incluindo pais, filhos, avôs, sobrinhos. Resultado do que o euro a menos de R$ 3 tem feito pelo turismo.