30/06/2008

Uma entrevista exclusiva com Ken Livingstone no metrô

Nada me dizia que esta seria uma segunda-feira única. Ao chegar à estação de metrô, corri pelas escadas ao ver que o trem estava na plataforma, como faço sempre, mesmo sabendo que o próximo trem leva mais dois ou três minutos. Ao ver dois lugares vazios às 8h50, pensei: que sorte. Afinal, mesmo já tendo passado da hora pesada do rush – quando mal há lugar para ficar de pé -, não é muito comum encontrar cadeiras vagas por volta das nove da manhã aqui em Londres.

Escolhi a que estava mais perto. Depois de me acomodar com mochila, bolsa e ipod, olhei pro lado pra ver quem seriam meus companheiros de viagem até o centro. Uma das minhas distrações é observar as pessoas e imaginar suas vidas. Mesmo em Londres, onde todos parecem impassíveis diante do que acontece à volta.

Confesso que tive que olhar pelo menos umas cinco vezes antes de acreditar que era verdade. O ex-prefeito de Londres, Ken Livingstone, estava sentado do meu lado direito. Olhei para as pessoas em volta. Quase todos seguiam tranquilamente para o início de suas semanas sem perceber ou sem dar qualquer atenção para o passageiro ilustre. Troquei olhares de cumplicidade apenas com uma mulher, que também parecia querer confirmar se aquele era o homem todo-poderoso de Londres nos últimos sete anos.

De blazer marfim e um olhar calmo, Livingstone lia o jornal Metro, distribuído gratuitamente no metrô. Ele levou algum tempo até me ouvir, ou decidir dar ouvidos a uma desconhecida que iria incomodar sua viagem. Depois de quatro "excuse me", finalmente olhou para mim. Ao me apresentar como uma jornalista brasileira, ele foi simpático. Sem grandes euforias, é claro, mas disse que o Brasil era o próximo país com o qual queria desenvolver vínculos e citou a visita do presidente Lula à Inglaterra em 2006 e o fato de o Brasil estar entre as dez maiores economias do mundo.

Em seguida, alfinetou que isso não deveria ocorrer durante a gestão de Boris (o conservador Boris Johnson, que o venceu na eleição do dia 1 de maio). As críticas ao novo prefeito foram freqüentes durante os cerca de 20 minutos de nossa conversa entre Willesden Green e Baker Street, uma amostra do que foi a campanha e o que tem sido a pós-campanha, marcada por trocas de acusações entre Boris e Livingstone.

Quando perguntei de seus planos políticos, o ex-prefeito foi categórico: “Concorrer à Prefeitura daqui a quatro anos". Numa entrevista ao The Observer na semana passada, foi mais cauteloso. Disse que não iria pensar nisso até 2010, quando o Partido Trabalhista convocasse para as previas. Parece claro, no entanto, que ele não vai sair da cena política assim tão fácil.

Até a próxima disputa, Livingstone pretende trabalhar na mídia – esta semana vai cobrir a licença da apresentadora de um programa de rádio na estação local LBC – e escrever um livro sobre seu período à frente da Prefeitura para ser lançado no verão de 2009. “Governar Londres é um trabalho maravilhoso”, disse, confirmando a paixão (ou o vício?) pela cidade, à qual está ligado politicamente há mais de vinte anos.

E eu só posso confirmar: andar de metrô em Londres é realmente imprevisível. Haja arrependimento por ter deixado minha máquina fotográfica em casa.

10 comentários:

Anônimo disse...

Putz!! Só faltava a foto mesmo pra ilustrar sua entrevista inusitada, Lunne! Mas, posso afirmar que sua experiência não foi comprometida por isso. Adorei amiga!

E olha como as pessoas, em situações mais descontraídas, acabam falando mais do que em entrevistas formais...às vezes até mais do que deveriam...hehe

Beijocas

Anônimo disse...

Grande encontro!! ARRASOU LU!! De agora em diante, nao tira a maquina da mochila!!!

* disse...

Seu blog continua surpreendente. Parabéns, Lucianne. Parece que está sendo boa a viagem, né?

Abs

Unknown disse...

A gente é jornalista em tempo integral, né? rs...
Bjs e fique com Deus,
Ale

Carla Felicia disse...

Sorte assim acompanha todo bom jornalista, amiga. Muito legal! Imagina se aqui a gente encontra um Luiz Paulo Conde ou um César Maia da vida andando tranqüilamente de metrô...

Anônimo disse...

Lu,
Fiquei feliz com seu encontro inusitado.
Em Londres acontecem coisas que aqui seriam um sonho. Mas a realidade é outra. Não esuqeça mais a máquina, pois ela sempre pode ser útil.
Beijos

Ana Paula Cardoso disse...

Nelson Rodrigues sempre dizia que o craque do futebol não precisa se preocupar com a bola, pois a pelota, como que atraída pela magnânima do jogador, vai correndo, humilde, atraída como um cãozinho pelo seu dono...assim é a notícia para um grande jornalista: vai até ele, sem pestanejar.
Sua grandeza atraiu esse 'furo', em uma prosaica manhã de segunda-feira no metrô de Londres...Grande jornalista que é, isso foi so a confirmação.
Sempre serei sua fã!!!

Angela Goes disse...

Amiga, que orgulho!!!!! acho que vou colocar o post no meu orkut também!!!! :)

Gabriel Cavalcanti da Fonseca disse...

Muito bom Lucianne!
Entrei pra esse mundo de blogs agora e certamente o seu vai ser um dos freqüentados. Mais pelo prazer de ler os textos, mas pelos furos no metrô também, com certeza :)
Quando estiver de bobeira dá uma passada no meu pra conhecer.

Beijo

Anônimo disse...

Tuquinha, correspondente! Adorei!! Meus parabéns! beijos