27/12/2007

Dia de comprar

Celebrado no dia 26 de dezembro, o feriado de Boxing Day é um dos dias mais famosos no Reino Unido. A origem teria sido na Idade Média, quando a data era usada para a doação de presentes e dinheiro para instituições de caridade e pessoas necessitadas depois de cada um aproveitar um farto Natal junto a suas famílias.

Há muito tempo, no entanto, o Boxing Day – que poderia ser traduzido literalmente como o Dia de Empacotar – se transformou no auge do consumo por aqui. O dia é o início oficial das liquidações no país, embora muitas lojas já comecem as suas antes mesmo do dia 24.

Admito, não tive coragem de me aventurar nas ruas para testemunhar o Boxing Day ontem. Mas a multidão que lotava a Oxford Street hoje, um dia depois, me fez imaginar um pouquinho o que deve ter sido... Comparável ao Saara, no Rio, na véspera do Natal. As calçadas e lojas estavam entupidas e quem quisesse andar com um pouco mais de velocidade (ou menos lentidão) precisava disputar espaço com os carros e os ônibus double-deck.

Ingleses, estrangeiros que moram na cidade e turistas se engalfinhavam para encontrar as melhores oportunidades. É claro que aqui e ali sempre tem alguma loja tentando enganar – e anunciando promoções furadas -, mas em geral as liquidações aqui são de verdade. Os preços caem em média 50% e é a hora de se permitir algumas extravagâncias que a libra supervalorizada não permite sempre. Para os que tem coragem, e muita paciência, é hora de correr para as lojas....


23/12/2007

Casamento ao lado



Um burburinho do lado de fora primeiro me pareceu agitação por causa da proximidade do Natal, mas os vizinhos super alinhados em plena manhã de sábado me fizeram repensar a suposição. De repente, além dos homens de terno, começaram a aparecer outros vestidos com longas batas e mulheres em seus saris coloridos. Minha ignorância não permite diferenciar se eram da Índia, de Bangladesh, mas de repente a festa se tornou mais próxima quando comecei a ouvir um batuque. Sim, um enorme tambor apareceu no meio, parecido com aqueles que vemos no Brasil mesmo.

Foi nessa hora que saiu da casa ao lado um rapaz com uma bata marfim e um turbante marfim e vermelho, rapidamente ovacionado pelas cerca de 20 pessoas que o esperavam do lado de fora. Sim, definitivamente ele era o noivo deixando sua casa em direção ao casamento. O ritual era cheio de cor, música e dança, um momento de muita alegria.

A qualidade da foto, tirada de trás da cortina de casa, deixa a desejar, mas é só para dar uma idéia do momento inusitado. Coisas que acontecem em Londres...

14/12/2007

Natal e frio: eles chegaram!

A uma semana do início do inverno, Londres está cada vez menos com a cara do outono. O termômetro pouco abaixo de zero grau é apenas o prenúncio de um frio mais forte que deve chegar ao longo de janeiro e fevereiro.

De manhã, só o que se vê é aquela camada branca fina de gelo, a geada que só costumava ver pela televisão quando o jornal mostrava o inverno no Sul do Brasil. Mas agora o frio está mais perto e confesso que tive que tomar cuidado para não escorregar no gelo do asfalto. As folhas das árvores ficam branquinhas...




As poucas horas de claridade - geralmente entre 8 horas da manhã e quatro da tarde - são de cada vez mais apreciadas, para compensar a longa noite.


Mas a grande vantagem do frio de dezembro, dizem os locais e por enquanto posso confirmar, é que o Natal alegra os dias e principalmente as longas noites do mês.


Descontando os apelos para o consumo da data, é verdade que a cidade está tomada por vitrines maravilhosas, músicas natalinas e luzes, muitas luzes.





A foto de cima é da Oxford Street, a maior rua de lojas da capital. A de baixo é da Bond Street, uma transversal da Oxford Street. A cidade também está tomada por pistas de patinação no gelo, rodas-gigantes e mercados de Natal.

04/12/2007

Alívio por enquanto

A professora britânica Gillian Gibbons acaba de chegar do Sudão, depois de passar oito dias presa acusada de blasfêmia por permitir que seus alunos dessem o nome de Maomé (Mohamed) a um ursinho de pelúcia. Ontem, ela recebeu o perdão do presidente Bashir, depois de uma ampla movimentação diplomática do governo britânico e de representantes da comunidade muçulmana do Reino Unido.

Na última quinta-feira, ela havia sido condenada a 15 dias de prisão, escapando de outras penas que chegaram a ser consideradas, como 40 chibatadas. Manifestações realizadas nas ruas de Khartoum, capital do Sudão, chegaram a pedir a pena de morte para a professora na semana passada. As imagens lembraram a forte repercussão da publicação de caricaturas do profeta Maomé em um jornal dinamarquês, em setembro de 2005. O Islã proíbe representações de Maomé. O caso da professora poderia ter tomado dimensões maiores, mas conseguiu ser contornado a tempo.

O que separa a interpretação dos muçulmanos britânicos dos sudaneses? Como uma religião pode ter diferentes maneiras de encarar uma mesma situação, com reações tão distintas? O que está presente no Corão e o que não está? Ou, para falar de uma realidade mais próxima dos brasileiros de maneira geral, o que está presente na Bíblia e o que é interpretado a partir dela?

A resposta certamente não é simples, mas o que é possível imaginar é que este não será o último caso em que as diferenças religiosas se tornarão tão fortes que serão motivo de conflito com conseqüências imprevisíveis. Resta saber se o mundo vai continuar agindo para apagar incêndios ou se um movimento preventivo se tornará uma realidade.