23/01/2008

'Minhas mãos estão atadas'

A frase do presidente do Banco da Inglaterra (o banco central daqui), Mervyn King, dá o tom do clima em relação aos possíveis efeitos da crise nos Estados Unidos na ilha britânica. É claro que o mundo todo parou esta semana por causa da queda nas bolsas e a redução dos juros pelo Fed (banco central americano). Na terra da libra, no entanto, parece que o pessimismo é a única corrente.

Se os jornais brasileiros há analistas apontando que o impacto no Brasil de uma recessão nos Estados Unidos pode ser menor que em momentos anteriores - por causa de reservas internacionais elevadas, endividamento externo menor e um mercado interno em crescimento -, a avaliação mais disseminada por aqui é que o Reino Unido tem grandes riscos de sofrer um forte impacto com a crise do outro lado do Atlântico.

O déficit do governo atingiu recorde em dezembro, a inflação está em alta, as vendas de Natal já mostraram desaceleração no consumo e o mercado imobiliário dá sinais de enfraquecimento depois de forte alta nos últimos anos.

"Minhas mãos estão atadas", disse o dirigente do Banco da Inglaterra depois da notícia do corte de juros do Fed. King previu que o país pode enfrentar um brusco desaquecimento este ano e admitiu ter "pouco controle sobre os ventos que golpeiam nossa economia".

O que é certo é que muitos ventos ainda virão nesta crise - que foi descrita pelo investidor George Soros em artigo no Financial Times de hoje como a pior dos últimos 60 anos - e estamos longe de ver tranquilidade de novo no mercado financeiro.

Só para tornar ainda mais delicada a situação do governo, no entanto, cerca de 22,5 mil policiais foram às ruas de Londres hoje em protesto contra um reajuste inferior à inflação e que deve ser repassado apenas em dezembro. O problema atinge outros funcionários públicos, como professores e médicos.

O primeiro-ministro Gordon Brown justificou os níveis dos reajustes com a necessidade da luta contra a inflação e pediu que os parlamentares sigam o exemplo e também aumentem seus salários abaixo da inflação, mas eles ainda não tomaram uma decisão final.

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